Dra Marisa Sousa: Enurese na Criança

Dra Marisa Sousa: Enurese na Criança
12 de Março, 2021

Dra Marisa Sousa: Enurese na Criança

Enurese Noturna é, a seguir à patologia alérgica, a disfunção física com maior incidência na infância. Esta situação não é uma doença, mas sim uma disfunção fisiológica que afeta a autoestima e socialização, devendo ser abordada e tratada.

 

O QUE É A ENURESE NOTURNA?

A Enurese noturna é definida como a perda involuntária de urina, durante o sono, numa criança com 5 ou mais anos de idade.

 

TIPOS

A Enurese pode ser classificada em monossintomática, se não se verificam outros sinais e sintomas ou não monossintomática quando se associam outros sintomas, como a incontinência urinária diurna, urgência miccional, alterações do jato urinário, infeções urinárias, etc.

Pode ser primária, se a criança nunca adquiriu o controle de urina durante a noite, ou secundária, quando se verificou um período de, pelo menos, 6 meses de continência.

 

PREVALÊNCIA

Em Portugal, a enurese noturna afeta cerca de 80.000 crianças entre os 5 e os 14 anos e estima-se que cerca de 55 milhões de crianças em todo o mundo sofram deste problema.

A prevalência de enurese primária varia com a idade, sendo mais frequente nos rapazes.

 

CAUSAS

São várias as causas implicadas na etiologia da enurese noturna, desde fatores de ordem hereditária a fatores fisiopatológicos ou psicológicos. Crianças cujos pais ou irmãos sofreram de enurese noturna têm uma maior probabilidade (se um dos pais teve o problema o risco é aproximadamente de 40-45% e se ambos os pais tiveram enurese o risco sobe para 70-75%). A causa fisiopatológica mais frequente é a deficiência na produção noturna da hormona antidiurética, mas disfunções sono-vigília, e fatores urodinâmicos também têm a sua implicação. Fatores psicológicos também podem estar na génese da enurese noturna.

 

CONSEQUÊNCIAS

A enurese pode provocar efeitos negativos na vida da criança (sentimentos de vergonha e ansiedade, baixa autoestima, dificuldades de socialização, perda de qualidade de vida e rendimento escolar, etc.) e da sua família (perturbação do sono, ansiedade, frustração, stress familiar, etc.).

 

O QUE FAZER

Perante uma situação de enurese noturna numa criança, os pais devem recorrer ao médico assistente da criança que avaliará, decidindo, se necessário, o envio a consulta especializada.

 

DIAGNÓSTICO

Deve ser feita avaliação clinica rigorosa, com análise de aspetos da vida diária da criança, nomeadamente: ingestão líquidos; os hábitos urinários; funcionamento intestinal durante o dia; as características e qualidade do sono; a existência de ressonar significativo; a frequência e características das perdas da urina durante a noite.

Deve também ser avaliado o impacto emocional da enurese na família e na criança e tentar identificar situações que possam ser responsáveis pela perturbação do equilíbrio emocional de psicológico da criança (divorcio dos pais, nascimento de irmão, dificuldades na adaptação à escola, etc.).

Na maior parte dos casos deve ser feita uma análise de urina, podendo ser necessário fazer ecografia renal com avaliação pós-miccional. Nas situações clinicas mais complexas pode haver necessidade de recorrer a outros exames de diagnóstico.

 

TRATAMENTO

A terapêutica da enurese noturna exige uma boa relação entre o médico, a criança e a sua família, devendo a criança ser entendida e respeitada como um ser singular, com as suas limitações, medos e preferências.

O tratamento compreende medidas não farmacológicas, com aconselhamento acerca das mudanças dos aspetos práticos da vida da criança e, em alguns casos, medidas farmacológicas, com medicamentos que reduzem a quantidade de urina durante a noite e/ou medicamentos que regulam o funcionamento do esfíncter vesical. Pode também recorrer-se à utilização de dispositivos tipo alarme, que deteta a urina durante a noite, e promovem o desenvolvimento de mecanismos que levam a criança a acordar.

 

PROGNÓSTICO

Embora a enurese noturna monossintomática seja uma situação benigna e tenda a passar naturalmente com a idade, é necessário estar alerta, diagnosticar problemas subjacentes e oferecer orientações e tratamentos que ajudem a criança a ultrapassar esta perturbação.

 

Dra. Marisa Sousa,

Pediatra no Hospital Terra Quente

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