Do Bullying ao Cyberbullying – Uma Realidade Atual

Do Bullying ao Cyberbullying – Uma Realidade Atual
20 de Outubro, 2022

Do Bullying ao Cyberbullying – Uma Realidade Atual

Hoje, dia 20 de outubro assinala-se o Dia Mundial de Combate ao Bullying.

O Bullying é um termo que surgiu a partir do inglês bully, que significa tiranobrigão ou valentão, na tradução para o português. É considerado a prática de atos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa e que não consegue entender os motivos que levam a tal agressão.

O Bullying pode ser praticado em qualquer ambiente, como na rua, na escola, na igreja, no trabalho, etc. Muitas vezes, é até praticado por pessoas dentro da própria casa da vítima, ou seja, pelos seus próprios familiares. Contudo, na sociedade atual, infelizmente, cada vez mais ouvimos o termo Bullying associado à escola, podendo ocorrer em todos os níveis do percurso escolar, desde o primário até os últimos anos do ensino secundário, envolvendo menosprezo e intimidação, seja por parte de um “valentão” ou por parte de um grupo de “valentões”.

 

  1. Causas, sinais de alerta e consequências

Não há uma única razão para a prática do Bullying, e não é fácil determinar o que leva uma pessoa a humilhar constantemente outra pessoa.

O Bullying não tem uma motivação única, e uma criança/adolescente pode sofrer este tipo de intimidação no ambiente escolar por diversas razões: um aspeto físico considerado fora do padrão, um traço de personalidade menosprezado pelos demais, um modo de pensar que não é aceite, um estatuto socioeconómico inferior, preconceitos raciais etc. De certa forma, nada justifica este facto, mas uma criança/adolescente pode sofrer Bullying pelo seu peso, pela sua cor de pele, pelo facto de ser estudiosa, por ser tímida, por querer prestar atenção às aulas, por não compactuar com certas atitudes de um grupo considerado dominante, etc.

Deste modo, existem determinados sinais de alerta por parte das crianças/jovens que se devem ter em consideração:

  • Alterações do humor, que poderão incluir manifestações de tristeza, ansiedade e/ou irritabilidade;
  • Quebra e/ou baixa autoestima;
  • Incapacidade e/ou dificuldade para prestar atenção
  • Comportamento mais introspetivo (reservado)
  • Baixos resultados e/ou insucesso escolar
  • Queixas físicas permanentes, como dores de cabeça e barriga (muitas vezes sinais indicadores de ansiedade)
  • Irritabilidade extrema
  • Perda de interesse ou recusa em ir à escola

O Bullying pode, assim, causar danos e impactos físicos e psicológicos nas vítimas, atrapalhando, muitas das vezes a sua aprendizagem, além de afetar, também, o seu comportamento/personalidade/forma de ser e estar, fora da escola.

Em casos considerados mais graves podem levar ao desencadeamento de distúrbios psíquicos mais significativos, como por exemplo, distúrbios do sono, transtornos alimentares, irritabilidade frequente, depressão, transtornos de ansiedade e pensamentos (auto)destrutivos (como desejo de morrer, sentimentos de culpabilidade, entre outros).

 

  1. Tipos de Bullying

Normalmente associamos o termo Bullying a agressões físicas, mas na verdade este conceito pode ter distintas versões, desde a versão verbal, física, indireta, ao mais recente termo Cyberbullying.

O Bullying verbal talvez seja o mais comum e está relacionado com uma série de atos intencionais de violência psicológica, como ofensas, provocações, ameaças, intimidações, humilhações, etc. A agressão verbal, pode ser acompanhada, muitas vezes, de uma agressão física e/ou serem praticadas simultaneamente. O Bullying físico são ações intencionais que têm como objetivo magoar a vítima fisicamente, como é o caso de chutar, bater, arranhar, empurrar, morder, beliscar, fazer tropeçar de propósito, etc.

O Bullying indireto nem sempre é tão reconhecido e identificado, mas consiste em falar mal pelas costas, espalhar boatos, causar intrigas, sem que a vítima esteja presente. Grupos que excluem uma pessoa, promovendo o seu isolamento, também praticam este tipo de Bullying.

O Cyberbullying é um conceito muito mais recente e que é, ainda, muito desconhecido pela sociedade, mas que é cada vez mais comum devido ao acesso frequente dos jovens às redes sociais. O Cyberbullying está relacionado com atos de intimidação intencionais e repetidos praticados por meio de dispositivos eletrónicos, como computadores, telemóveis e tablets, podendo ocorrer através de redes sociais, e-mail, mensagem de texto, chat e sites. Quando o assédio virtual é intencional, sistemático e tem como objetivo difamar, anular, subvalorizar e/ou intimidar outra pessoa (exposição de fotos de outra pessoa nas redes sociais com a finalidade de humilhá-la ou causar constrangimento; espalhar boatos comprometedores e ofensivos, divulgação de vídeos abusivos contra alguém, etc.), pode ser caraterizado como Cyberbullying.

 

  1. Como lidar/ intervir

O Dia Mundial do Combate contra o (Cyber)Bullying, 20 de outubro, pretende sensibilizar e consciencializar a população para esta forma de violência, apoiar e incentivar as vítimas a denunciarem estas graves situações e encontrar formas de as prevenir, visto que esta luta não é uma tarefa de um dia, nem de um grupo de pessoas, mas sim de todos os dias e de todas as pessoas.

Ao terem conhecimento de uma situação de (Cyber)Bullying, sejam as crianças as vítimas ou agressores, os pais, educadores, encarregados de educação, professores, entidade escolar, devem mostrar-se disponíveis para fazer frente e resolver de imediato e a curto prazo a situação:

  • Se a criança/jovem é a vítima, devem num primeiro momento ouvi-la, atentamente, procurando confirmar a veracidade dos factos, sem nunca desvalorizar a queixa ou culpabilizá-la pelo sucedido. Comentários do tipo “isso não é nada!” ou “não te sabes defender?” estão longe de ser as melhores opções.

Um dos motivos pelos quais as crianças/jovens, muitas das vezes, escondem e/ou omitem a ocorrência deste tipo de situações, é precisamente pela indiferença e incompreensão que sentem. Por isso é de extrema importância que a criança se sinta ouvida e compreendida, devendo os responsáveis transmitir-lhe que é possível resolver o problema, sendo para isso necessário comunicá-lo à escola/entidade responsável;

  • Se a criança/jovem é o agressor, os pais, educadores, encarregados de educação, professores, entidade escolar deverão estimular uma conversa franca e honesta sobre a situação, procurando perceber quais as motivações da criança para a adoção daquele comportamento/atitude incorretos.

A escola deve avaliar o problema e efetuar o registo de incidentes, assegurando a comunicação entre pais e/ou educadores. Em relação aos alunos, estes devem ser estimulados a denunciar o (Cyber)Bullying, sendo para isso fundamental que acreditem que a escola e /ou responsáveis irão intervir atempadamente e de forma correta.

Em simultâneo com este tipo de intervenção, revela-se cada vez mais necessário a ajuda de profissionais especializados para tal (psicólogos da escola ou externos), que possam intervir não só junto das vítimas, mas, também, dos agressores. Com as vítimas, deverão ser trabalhados aspetos relacionados com a (re)estruturação cognitiva, estimulada a assertividade e promovida/contruída uma maior autoestima e autoconfiança. Com os agressores, deverá ajudar-se, sobretudo, a reduzir a agressividade, a promover o autocontrolo e a promover competências de gestão de conflitos.

A prevenção e conhecimento/psicoeducação sobre a temática é fundamental e a chave para a resolução do problema pelo que podem e devem ser dinamizadas atividades de combate ao (Cyber)Bullying que envolvam toda a comunidade escolar e/ou sociedade envolvente:

  • Criar/desenvolver um espaço para que as denúncias sejam realizadas de forma anónima, garantindo maior segurança a quem tem essa iniciativa;
  • Existir supervisão dos espaços escolares, que poderá ficar a cargo de funcionários ou mesmo de alunos, com vista à identificação de situações de (Cyber)Bullying;
  • Existir um maior investimento na educação emocional em contexto escolar, através da dinamização de atividades que promovam, entre outras coisas, a expressão e regulação emocional e a capacidade de resolução de problemas.

 

Drª Tânia Saldanha – CP 16481

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